Começar é fácil. Acabar é mais fácil ainda. Chega-se sempre à primeira frase, ao primeiro número da revista, ao primeiro mês de amor. Cada começo é uma mudança e o coração humano vicia-se em mudar. Vicia-se na novidade do arranque, do início, da inauguração, da primeira linha na página branca, da luz e do barulho das portas a abrir.
Começar é fácil. Acabar é mais fácil ainda. Por isso respeito cada vez menos estas actividades. Aprendi que o mais natural é criar e o mais difícil de tudo é continuar. A actividade que eu mais amo e respeito é a actividade de manter.
Em Portugal quase tudo se resume a começos e a encerramentos. Arranca-se com qualquer coisa, de qualquer maneira, com todo o aparato. À mínima comichão aparece uma «iniciativa», que depois não tem prosseguimento ou perseverança e cai no esquecimento. Nem damos pela morte.
(...)
É como no amor. A manutenção do amor exige um cuidado maior. Qualquer palerma se apaixona, mas é preciso paciência para fazer perdurar uma paixão. O esforço de fazer continuar no tempo coisas que se julgam boas - sejam amores ou tradições, monumentos ou amizades - é o que distingue os seres humanos.
Quadrado de Papel
27/04/10
Albert Einstein
12/03/10
O Cemitério das Raparigas, de Miguel Esteves Cardoso
O meu coração dá-te como morta, mas tenho a tua imagem, o teu rosto deitado sobre o meu como se dormisses sobre mim. Guardo-a contra o tempo e contigo, para levar no momento em que eu deixe de viver. Nós somos tão brancos. Com a tua escuridão e a minha cegueira, nós somos tão brancos e tão parecidos que me custa abrir os olhos e não te ver.
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